terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Novo Ano


Era o primeiro dia do ano e ela pensou na tela em branco diante de si.
Pensou em tudo que lhe foi primeiro, ainda que recomeço.
Lembrou do primeiro namorado, da primeira transa, do primeiro dia de trabalho, da primeira vez que carregou a bebê no colo, da primeira vez que sentiu vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.
Sentiu o cheiro de cominho que lhe lembrava a primeira vez que esteve na Grécia.
A primeira noite de casada.
A primeira troca de fralda.

Ele atravessou seus sonhos, pois sim, ela colocou uma muralha tão impenetrável em seu passado que só se aproxiamavam quem ela permitia.

Eram tantas as cenas que seu filme ficou confuso. Era Jerusalém ou Sistriera? Já não se recordava mais.
Passou por tantas cidades, com pés cansados de desvendar seu próprio mundo.
Choveu forte e ela observou a rua com os olhos marejados e cansados. Era uma senhora de 60 anos num corpo jovem e acinturado. Choveu mais forte ainda em sua garganta.

Ajeitou o chapéu e retocou o batom vermelho.
Apertou as bochechas, num ato de dar-lhes vida.
Estava estática e pulsante.

2 comentários:

GizeldaNog disse...

Vanessa! Que texto é esse?
Irretocável!Lindoooo!

Você sempre consegue me surpreender, mesmo eu sabendo que o seu talento e sua sensibilidade podem tudo.

Beijos, minha querida.

Encha-se de luz em 2001 para que seu brilho ilumine sua vida inteira.

Vamn disse...

Olá, Gizelda!
Fiquei bastante emocionada com seu comentário!
Feliz Ano Novo, com um 2011 de todas as possibilidades...
bj de carinho,