segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Uma xícara de café e duas doses de Nietzsche





"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: essa vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terá de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamen­to e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida haverão de retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência..."


"Minha fórmula para a grandeza no homem é o amor fati: nada querer diferente, seja para trás, seja para frente, seja em toda a eternidade. Não apenas suportar o necessário, menos ainda ocultá-lo - todo o idealismo é mendacidade ante o necessário - mas amá-lo."


O

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


O que é esse incômodo senão a percepção da mudança?
Sintoma do diferente, do estranho. Do que há a vir...
Presença da indiferença, da objeção, do dejeto.

Anywhere between heaven and hell...

Não acredito em poucas palavras, nem no silêncio de duas almas inquietas, nem mesmo na fala que muito diz e nada quer dizer.
Assim como não acredito em céu e inferno, em fantasmas (prefiro apostar em fantasias), em Deus ou Diabo. Cavalos-alados, dragões, mitos.
Estou descrente numa porção do humano que nunca quis enxergar. (Por querer bem demais?)
Entre faixas de sintonias energéticas, onde a inércia é ativa, provocadora, por vezes ultrajante.
Entre o céu e o inferno, seja lá onde isso for. Só sei que é fora.
Não encontro a generosidade de outrora, o astral colorido de Amélie Poulain, a dignidade de enxergar adversidade no amor, o amor incondicional.
Não percebo a sutil diferença que pode existir entre uma "gongada" sofisticada e um exercício de querer-bem.
Meus olhos estão cerrados.
Meu coração está com a capacidade de amar em lotação.
Meu abdômen tenta segurar algo que lhe escapa.
Enquantos meus braços fortalecem seus abraços.
Meus ouvidos calaram a voz da soberania.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dama Soturna



Vestia um tubinho branco, na altura dos joelhos, bem acinturado.
Usava no cabelo um coque tipo banana, com uma presilha de borboleta incrustada de pequenas pedras coloridas.
Exalava um perfume, e era chamada de dama-da-noite...
Era justamente durante a noite que seu outro lado aparecia.
Era durante a noite que seus pesadelos mais temidos eram-lhe revelados e como defesa, atingia ao mundo com seu poderoso perfume.
Era atravessando a madrugada que a dama tornava-se mais e mais conhecida de si mesma, e daquele casal de pedestres que por ali passava com frequência.
Seu destino era incógnito, e assim feliz vivia.
Viva na comédia e no drama de sua existência.
Dividida entre a prosa e a poesia.
No seu egoísmo em se fazer bela, em seu altruísmo em distribuir seu perfume,
Só havia um destino possível: seguir adiante...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

SOBRE O FEMININO OU ALGUMAS CONSIDERÇÕES SOBRE O NÃO-SER MULHER




Ao longo de sua obra, Freud aponta a diferenciação sexual muito além da anatômica, mas que essa se dá a nível inconsciente. Na perspectiva freudiana, nenhum sujeito é detentor de uma especificidade puramente feminina ou masculina.
O complexo de Édipo consiste numa ambígua relação de sentimentos de amor e ódio em relação à mãe. O menino, amando a mãe, percebendo-a castrada, e com medo que o mesmo aconteça a ele, volta às costas ao complexo de Édipo em busca de um novo objeto amoroso.
Já a menina, entra no Édipo pela mesma via que o menino sai. Ela decepciona-se com a mãe, por não ter dado a ela um pênis e vai de encontro ao pai em busca de um filho para dar lugar ao seu falo.
O complexo de Édipo, como saída da criança frente à castração, tem como objetivo que a criança assuma o falo como significante, e de uma maneira que faça dele instrumento da ordem simbólica das trocas. Assim, permitindo a ela não apenas ser conduzida a uma escolha objetal, como uma escolha objetal heterossexual. E ainda, que se situe nesta escolha corretamente em relação à função do pai .
A metáfora paterna opera de forma a recalcar um significante primeiro (desejo da mãe), dando lugar ao significante Nome-Do-Pai, permitindo assim à criança todas as substituições (ou escolhas) possíveis na cadeia significante, desta forma, é inscrita na linguagem.
Temos aqui o falo como determinante enquanto função para a formação da sexualidade, ainda na idade infantil.
Mas de que se trata esta escolha?
O que é ser homem ou ser mulher?
A problemática se inicia a partir do momento em que o simbólico é fálico, portanto não existe inscrição do feminino no inconsciente. Lacan diz: “A mulher não existe” (L/a femme), isto quer dizer que não existe o significante da identidade feminina (S (A)). A mulher deve ser tomada uma a uma, pois não há significante prévio que a funde como mulher, como acontece no habitante do campo masculino. É uma lógica para-além do falo, uma lógica do Outro.
A saída feminina é apostar num semblent de fálica, no uso de uma máscara de quem se reconhece castrada, porém não se apresenta ao Outro como tal, daí uma lógica para-além do falo, uma lógica do Outro. Semblent enquanto véu em frente ao Real, protegendo o sujeito do gozo.
Novamente, o que quer uma mulher?
Uma mulher quer ser desejada, ou em outras palavras, quer ser causa de desejo de um homem, homem este, que em seus devaneios, busca feitos heróicos e trunfos com a finalidade de agradar uma mulher, para que ela o prefira aos outros homens. O homem está afetado/implicado com a questão do feminino por também querer saber o que é uma mulher/ o que quer uma mulher.
O feminino não existe como única saída frente à deparação da castração e suas implicações da mulher. Ele existe, não como regra, ou matema de definição. Mas como um vir a ser, um tornar-se mulher.
Tornar-se mulher passa por seu romance familiar, sua relação posterior à Mãe e ao Pai, à disputa/ rivalidade feminina (uma forma de fantasia histérica que aponta numa relação de bissexualidade, como podemos ver claramente no caso Dora e sua relação de amor com a Sra. K.) , suas futuras escolhas amorosas e muitos outros aspectos.
O novo filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, a começar pelo próprio título, evoca as vias do desejo feminino e como cada mulher da trama vivencia com o seu objeto amoroso suas posições em relação ao próprio desejo, ilustrando com maestria como o ser mulher é percebido no caso a caso.
O filme trata da história de duas jovens americanas, Vicky e Cristina, que viajam a Barcelona para passar o verão. Lá, se envolvem com Juan Antonio, um pintor ainda ligado à sua ex-mulher, Maria Elena.
Vicky, a boa-moça que se deixa levar pelos acontecimentos da viagem, que nunca sabe o que quer, apenas o que não quer/ não espera de um relacionamento, envolve-se com Juan Antonio, que ainda apaixonado por sua ex-mulher Maria Elena propõe uma relação triangular.
Cristina, que vai a Barcelona para estudar para sua tese de mestrado está noiva de um empresário em Nova Iorque, mas acaba se entregando aos braços do mesmo Juan, apesar de suas relutâncias racionais e idealizações obsessivas em querer controlar o desfile de seu desejo.
Juan é o homem que direta ou indiretamente afeta a cada uma das mulheres do filme com seu jeito sedutor, quase um Don Juan, alma de artista que sabe diferenciar o ser mulher de cada uma de suas conquistas, na individualidade do caso a caso do ser mulher.
Maria Elena, interpretada por Penélope Cruz, é a típica mulher à beira de um ataque de nervos, mostrando toda histeria e loucura na relação amorosa com Juan.
Há ainda Judd e Mark, o casal anfitrião das jovens em Barcelona. Judd tem um caso extraconjugal há algum tempo, mas tem como certo não separar-se de Mark, restando a ela estimular Vicky a largar seu noivado em troca de sua paixão por Juan, como uma forma de realizar seu próprio desejo.
De uma forma leve e engraçada, Woody Allen consegue tramar todas as mulheres em torno de um mesmo homem, e como cada uma se afeta de uma forma em relação à sua subjetividade de amar.
Seja no medo em assumir o próprio desejo, seja testando formas inusitadas de dividir um homem (pela loucura ou pela aventura), seja em assumir o objeto de desejo como impossível, ou então, seja projetando na outra mulher uma possibilidade de realizar o amor, o fato é que nem mesmo nós mulheres histéricas sabemos o que realmente quer uma mulher.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

...



Não é possível todo o tempo,
Leal,
Real,
Amiga,
Amor
Eu mesma.

Nem presença,
Nem ausência.
Nem raiva,
Nem amor.

Há sentimento,
Malícia, Vida,
Compreensão e
Superação.
Mas não é possível todo o tempo.

Sem pressa,
Sem ansiedade.
O tempo que leva
é o tempo que traz.

Quando se sabe que não é possível o tempo todo.
E que bom que assim não é.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A realidade de um castelo imaginário, ou como construir vida no real


Nunca é tempo demais para elaboração, em vista panorâmica.
Sempre é tempo demais pra se comunicar quem se é.
A lua alta em terceiro ciclo comunica o amor em mutação.
A maré acusa movimentos naturais.
O corpo é maré, e também o é seus fluídos, entre indas e vindas.
Ressacas, batimentos em pedras e descansos na areia.
Fluxos exaltados, fluxos parados, ainda que estejam gritando em calar.
Uma gota de chuva cai, marcando a areia onde a criança constrói seu forte.
E ela insiste em almofadar a terra, torneando-a como aprendeu com os apaches.
E reconstroe sua força lúdica, fortaleza. Real.
Ela se distrai e enfrenta tudo que seja terra, mar, sol, chuva, suor.
Não há mais conflitos.
A voz da criança se cala por que não é mais necessário o som que não seja o do vento.
E passa horas entretida em sua história, que é tão ou mais real que os banhistas que a cercam.
Não vê o tempo passar e não conta com marcadores de tempo.
Seu dinamismo dura o tempo que durar, assim como o amor daqueles amantes que admiram a lua em terceiro ciclo.
Assim como o inverno, que dura o tempo suficiente para permitir às flores mais um colorido.
Ou como a chuva, que cai até que se faça sol novamente.
Sem preocupações de porquês, sem indagações de quando ou sem querer medir o poder do amanhã.