quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Do jeito que ela é


Demoraram-se anos para que ela pudesse construir sua bagagem cultural, espalhar as peças sobre a mesa e escolher as quais mais gostava.
Custaram-lhe muitas horas no divã para desenvolver e formalizar sua identidade.
Contestou o nome dado e assumiu seu nome próprio.
Afirmou suas preferências, seus gestos, tom de voz. Era peculiar e autêntica.
Ela era do seu jeito, particular e unitária.
Suas memórias a acompanhavam tatuadas em sua história.
Ela era Helena, mulher de Atenas e teve seu sutiã queimado em Woodstock.
Fora heroína de seus contemporâneos. Fora a face da moeda local.
Era a encantadora de Sistriera e embora não a visitasse há mais de 80 anos, tinha certeza que fora lá que criara seus filhos. (eles tinham aquele sotaque característico)
A cidade era real ainda que seus habitantes fossem parte de seus ossos.
Essa história se localizava em seus olhos. Sua frieza distante trazida como herança, junto com seus longos cabelos lustrosos.
Tinha lábios tintos por diversas paixões. Cada uma vivida última e unicamente.
Pegou sua mala e a encheu de recortes de jornal. Eles lhe davam a segurança que suas memórias eram reais, assim como as poucas fotos que guardava sob a penteadeira.
Agora decidira ser outra, e nada daquilo fazia sentido.
Tinha pouco mais de 30 anos e era solteira (aquilo sim não fazia sentido para quem fora criada em Sistriera).
Sua pergunta era a mesma: - Se confiava tanto na opinião dela, por que não a escolhera oito anos antes, quando ainda se dispunha a viver no México?




2 comentários:

GizeldaNog disse...

Querida Vanessa...

Hà textos seus que falam muito mais nas entrelinhas do que nas palavras.Isso não quer dizer que os desnudo....rs.

Uma mulher de Atenas...um labirinto , é a conclusão lógica.( aliás lembro-me dessa citação em outro post).

Não sei por que, mas vejo muito de você nesse foco narrativo em terceirapessoa...humm...instigante!

Vou procuara traçar um fio condutor entre alguns detalhes de seus textos. É um jogo...interessante ou perigoso(?)

Beijos.

Vamn disse...

Oie, Gizelda!
Será que alguém que escreve com a alma sabe realmente o limite exato entre ficção e realidade?
Rs adoraria a aventura de um fio condutor...
Acho interessante e perigoso... rs
bjks