domingo, 24 de junho de 2012

Era uma mulher de estômago forte.
Avestruz.
Acostumada a temperos fortes, sabores diferenciados.
Amava gengibre, canela, cravo da índia.
Adorava cozinhar, aceto balsâmico, café forte e puro.
Folha de louro, alho, cebola, frutas silvestres.
Tinha garganta larga e profunda, engolia qualquer situação e seguia adiante.
Sapos.
Não fosse aquela página, com cotação, três nomes e um site.
Seu mundo caiu.
Não que esperasse tanto, porque nesse dia não esperava nada.
Apenas, automática, empacotava malas.
Remexia roupas velhas e cadernos usados.
E derrubou lágrima.
E sentiu a solidão da época de casada.
Derrubou mais lágrima, porque ela fora fiel.
Lágrima arrependida de sua escolha.
Por ter aberto mão do que amava.
Porque impediu seguir seu coração.
Porque deixou o tempo passar leviano.
Ela fora real, mesmo com suas aventuras ilusórias.
Até na quietude e afastamento o homem a magoara, já não bastava passar sua vida a limpo, apareceriam sempre rascunhos a serem revisados?
Conversara mentalmente com seu guia do viver, e não ouviu contraponto.
Assistira a um belo filme que também falava sobre traição.
E mais lágrimas, porque o filme a permitira chorar as dores que na vida silenciava.
Precisou de café quente, companhia amiga, chafurdar em carinho desprovido de intenções.
Queria a mão macia, com a umidade e temperatura que sempre desejou e ele sequer imaginava.
Propôs-se a enfrentar o deserto para a seguir saciar sua bruta sede, água assim tem sabor melhor.
E acreditava esperançosa que o rio estava logo a frente, pois sentia o cheiro ozônico que tanto apreciava, da chuva molhando terra e grama.
De seu arqueiro lhe mirando como cupido, com o coração carregado de amor e pleno de amizade.
Sim, ela aguardaria o momento de encontrar a imagem à miragem... aguardaria com calma e serenidade pois ao seu lado passaria para além da eternidade.



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