quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pôs-se pela terceira vez a editar sua autobiografia, correndo os olhos mareados pelo texto.
Não acrescentou palavra.
Fazia muito tempo que ela não escrevia, há muito a emoção lhe tocava a alma.
Estava no trecho em que riscava um a um dos mandamentos, e, a não ser pelo quinto, sua lista estava repleta das mais variadas peripécias.
Ainda assim, não se comoveu.
Sentia como se sua alma fosse dividida em duas metades, e cada uma corria para um dos pontos cardeais.
A confusão do homem agora lhe conturbava, não era apenas como antes, quando sabia o que queria e como fazê-lo realidade.
A única posição que conhecia era o papel que desempenhava na cena toda.
Tomou as metáforas como frases prontas e reconheceu seu maior erro.
Estava inerte.
Com tanta paz, que não se reconheceu.

***

Segunda-feira começaria a mais nova etapa de sua vida, a mais recente conquista, e esboçou um leve sorriso.
Seria ela capaz de retomar a alegria? A vida pulsante? A construção de uma auto-biografia infinita, aventurosa? Sua montanha-russa de vida?
Quem era essa mulher?
Como conseguiria preencher as lacunas daquela história, não fosse repetindo, retomando e reagindo?
Onde estava Helena de Sistriera, além de dentro dela?

***

Suspirou, enxugou sua dor com rodo.

***

Era um bom dia, e começava agora.
O coração estava apertado, e com sua capacidade máxima preenchida.
Pelo menos ainda estava lá, pulsando. Na dor e no amor.
Pensou em seu melhor amigo, aquele que cuidava da sua boneca enquanto ela vivia, e sentiu sua falta.
Seu mundo era muito mais completo com os amigos ao seu redor.

***

O homem a magoara novamente.
Perdera tanto tempo buscando a resposta em todos os lugares...
Mas não estavam em lugar algum que não dentro dela.
Sentia seus deveres assim como sentira o assalto da segunda passada e foi nesse momento em que abriu o seu tarot.
O Caminho que lhe atribuia as respostas mais iminentes.

***

Era o momento certo para recuperar o fôlego e atravessar o canal a nado.
Se quisesse a voluptuosidade do amor, teria que vencer o amor à voluptuosidade.

2 comentários:

GizeldaNog disse...

Querida.
Fiquei procurando seu rosto nessas entrelinhas, e , mesmo não o encontrando , tenho certeza de que está ali.

De qualquer maneira, tenho certeza de que " essa mulher" é capaz de subverter uma montanha russa ou...talvez, retomá-la .Por que não?

Beijoooo.

Tentei entrar aqui antes, mas n vezes encontrei a postagem de abril. A explicação está nesse texto, nas entrelinhas, claro.Os grandes textos não estão nas palavras , mas no silêncio entre elas.

Vamn disse...

Gizelda!

Entendo quem não escreve por encomenda!

São os mais passionais, que se entregam em tudo aquilo que fazem!

Sem amor, sem paixão, não há poesia, não há arte! Afinal, essas são sublimação dos afetos!
Bjks

Vamn