terça-feira, 27 de abril de 2010

AMIZADE VERDADEIRA





Pítias, condenado à morte pelo tirano Dionísio, passava na prisão os seus últimos dias.

Dizia não temer a morte, mas como explicar que seus olhos se enchessem de lágrimas

ao ver o caminho que se abria diante das grades da prisão? Sim, era a dura lembrança dos velhos pais! Era ele o arrimo e o consolo deles. Não mais suportando,

um dia Pítias disse ao tirano: - Permita-me ir à casa abraçar meus pais e resolver

meus negócios. Estarei de volta em quatro dias, sem acrescentar nem uma hora a mais.

- Como posso acreditar na sua promessa? Os caminhos são desertos.

O que você quer mesmo é fugir - respondeu Dionísio, irônica e zombeteiramente.

- Senhor, é preciso que eu vá. Meus pais estão velhinhos e só contam comigo para

se defenderem - insistiu Pítias com o olhar nublado de lágrimas.

Vendo que o tirano se mantinha irredutível, Damon, jovem e amigo de Pítias,

interveio propondo:

- Conceda a licença que meu amigo pede; conheço seus pais e sei que carecem

da ajuda do filho. Deixe-o partir e garanto sua volta dentro dos dias previstos,

sem faltar uma hora, para lhe entregar a cabeça.

A resposta foi um não categórico. Compreendendo o sofrimento do amigo,

Damon propôs ficar na prisão em lugar de Pítias e morreria no lugar dele se

necessário fosse. O tirano, surpreendido, aceitou a proposta e depois de um

prolongado abraço no amigo, Pítias partiu.

O dia marcado para sua execução amanheceu ensolarado. As horas passavam

céleres e a guarda já se mostrava inquieta. Entretanto, Damon procurava restabelecer

a calma, garantindo que o amigo chegaria em tempo. Finalmente chegara a hora da execução. Os guardas tiraram os grilhões dos pés de Damon e

o conduziram à praça, onde a multidão acompanhava em silêncio a cada um dos

seus passos. Subiu, então, ao cadafalso.

Uma estranha agitação levou a multidão a prorromper em gritos.

Era Pítias que chegava exausto e quase sem fôlego.

Porém, rompendo a multidão, galgou os degraus do cadafalso, onde,

abraçando o amigo, entregou-se ao carrasco sem o menor pavor.

Os soluços da multidão comovida chegaram aos ouvidos do tirano.

Este, pondo-se de pé em sua tribuna, para melhor se convencer da cena que

acabava de acontecer na praça, levantou as mãos e bradou com firmeza:

- Parem imediatamente com a execução! Esses dois jovens são dignos do amor dos homens de bem, porque sabem o quanto custa a palavra. Eles provaram saber o

quanto vale a honra e o bom nome! Descendo imediatamente daquela

tribuna, dirigiu-se a Pítias e a Damon. Dionísio estava perplexo e os abraçando comovidamente, lhes falou: - Eu daria tudo para ter amigos como vocês!



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